Com participação do Pagu, novo INCT "Caleidoscópio" fortalece os Estudos de Gênero no país

Instituto tem coordenação da Profa. Viviane Resende, da UnB, e vice-coordenação da Profa. Karla Bessa, do Pagu/Unicamp 

 

Publicação original: COCEN, Pagu, em 23/1/2023
Por: Rafael Brandão
 

 

 

Logo da Rede Caleidoscópio que germinou o novo INCT

 

Os Estudos de Gênero e áreas relacionadas contarão com um novo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) para a articulação de pesquisas e defesa de suas pautas em âmbito nacional. Orientado por uma perspectiva feminista, transfeminista e antirracista, o "Caleidoscópio - Instituto de Estudos Avançados em Iniquidades, Desigualdades e Violências de Gênero e Sexualidade e suas Múltiplas Insurgências" entra em funcionamento em 2023, reunindo grupos de pesquisa de 24 instituições.

 

Com sede na Universidade de Brasília (UnB), o INCT tem coordenação da Profa. Viviane Resende, do Núcleo de Estudos de Linguagem e Sociedade (NELIs/UnB), e vice-coordenação da Profa. Karla Bessa, do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu/Unicamp. Organizado em cinco nucleações, uma em cada região do país, o Caleidoscópio busca contribuir para a redução das violências e desigualdades que marcam a vida das mulheres nas ciências, através da implantação de observatórios, incubadoras sociais e uma robusta política de divulgação e transferência de conhecimentos.

 

Além dos obstáculos práticos, há uma série de entraves estruturais aos avanços das pautas do INCT, conforme explica a coordenadora, Viviane Resende. "Estruturais porque estamos tratando de questões enraizadas e de difícil enfrentamento em nossa sociedade, como as violências e desigualdades sistêmicas que fazem parte da realidade das mulheres, por exemplo, e o racismo estrutural que marca nossas relações sociais historicamente. São desafios que passam não só pela necessidade de informar, produzir conhecimento, sensibilizar, mas também pela urgência em gerar reflexão, promover a consciência sobre essa realidade e transformar nossas práticas e ações", diz Viviane.
O INCT comporta um conselho de usuárias e um comitê gestor constituído pelas pesquisadoras Dolores Gallindo (UFCG), Elizabeth Ruano (UnB), Joana Maria Pedro (Universidade Federal de Santa Catarina), Maria Carmem Gomes (UnB), Maria Margaret Lopes (Unicamp) e Silvia Ferreira (UFBA).


O trabalho intergeracional é destacado pela coordenadora como outro aspecto inovador da proposta. "Apostamos no engajamento de gerações distintas de alunas e pesquisadoras, trabalhando em distintas realidades em cada região do país para enfrentar o desafio das desigualades regionais. Pessoas altamente capacitadas, com um histórico de pesquisa, ensino e extensão sobre os temas do INCT. Esperamos ver florescer processos e caminhos distintos e inspiradores". 

 

 

Caleidoscópio - De rede de grupos de pesquisa a Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia

O novo INCT tem raízes no Encontro Nacional de Centros e Núcleos Especializados em Pesquisas sobre Gênero, Mulheres e Sexualidades, convocado em 2021 pelo Pagu, NEIM e Instituto de Estudos de Gênero (IEG) da UFSC. O encontrou gerou a Caleidoscópio, Rede Nacional de Centros e Núcleos de Estudos Feministas, Transfeministas, Antirracistas, Decoloniais e Transdisciplinares. Com a rede já em funcionamento, foi elaborada uma proposta para concorrer ao Edital 58/2022 do Programa de Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia - INCT, aprovada com nota máxima em todos os itens de avaliação.


A vice-coordenadora do INCT e pesquisadora do Pagu, Karla Bessa, explica que a imagem do caleidoscópio remete à diversidade dos vários centros e núcleos engajados no projeto, com distintas ferramentas metodológicas. "É uma imagem aberta e rica o suficiente para sinalizar que não pretendemos impor uma perspectiva teórica ou política única. Acolhemos modos diversos de entendimento dos conflitos sociais e das respectivas propostas de superação, desde que não pactuadas com o aprofundamento das políticas neoliberais que hoje sustentam posturas negacionistas e desinvestimento em produção e acesso democrático ao conhecimento produzido por universidades públicas", salienta Karla, referindo-se aos ataques sofridos pelo campo de Estudos de Gênero e Sexualidade, rotulado em campanhas de notícias falsas como parte de "um projeto ideológico de gênero", contexto que motivou a criação da Rede Caleidoscópio.


As expectativas para o campo de estudos são radicalmente diferentes com o novo governo federal, diz a coordenadora do INTC, Viviane Resende. "Se antes predominava um ambiente de intolerância, hostil à diversidade de formas de pensar e estar no mundo, hostil inclusive à prática e aos conhecimentos científicos, com o novo governo temos certeza de que o cenário é outro, propício à ciência e às universidades. Teremos trabalho em catar os cacos de muitos processos que foram desmobilizados".