Por justiça climática e de gênero: Rede Arandu compõe a programação da 21ª edição do Acampamento Terra Livre em Brasília
Foto: Produção Rede Arandu.
O Acampamento Terra Livre (ATL) de 2025, realizado entre os dias 7 e 11 de abril, em Brasília (DF), reuniu cerca de 8 mil indígenas de todas as regiões do país em sua 21ª edição. Com o lema “APIB somos todos nós: Em defesa da Constituição da vida”, o ATL deste ano reafirmou pautas centrais como o fortalecimento da democracia, a resistência à desconstitucionalização de direitos e o protagonismo indígena na construção de um futuro com vida e justiça socioambiental — “o futuro somos nós”.
A Rede Arandu esteve presente de forma ativa na programação, com destaque para sua atuação junto ao movimento LGBTQIAPN+ indígena, que vem se fortalecendo dentro das articulações nacionais. Um dos principais momentos foi o Ato da Diversidade, espaço de afirmação, visibilidade e resistência, que homenageou Tybyra, indígena do povo Fulni-ô, executado no século XIX pelo exército imperial brasileiro por manter uma relação homoafetiva com um oficial. Tybyra hoje é símbolo de luta das pessoas indígenas LGBTQIAPN+ e sua memória é resgatada como resistência à colonialidade, ao racismo e à LGBTfobia.
Durante o ato, também foram lembrados parentes LGBTQIAPN+ que “ancestralizaram”, reafirmando a força coletiva de suas trajetórias dentro do movimento indígena. Um marco histórico dessa edição foi o anúncio da criação de uma cadeira específica para representantes LGBTQIAPN+ dentro da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). Essa conquista representa um avanço significativo para o reconhecimento das múltiplas identidades e expressões de gênero e sexualidade nos territórios, ampliando a escuta e a formulação de políticas e ações mais inclusivas.
Além disso, a Rede Arandu, em parceria com a APIB e o Coletivo Tybyra, lançou durante o ATL a Carta de Enfrentamento às Mudanças Climáticas a partir das Perspectivas de Pessoas Indígenas LGBTQIAPN+. O documento traz reflexões e propostas sobre justiça climática e de gênero a partir de experiências nos territórios, destacando que os impactos da crise climática afetam de forma diferenciada pessoas indígenas LGBTQIAPN+ e que essas vozes precisam estar no centro dos debates e decisões. A carta reforça que não há justiça climática sem justiça de gênero, sexualidade e demarcação de territórios.
Como parte de sua atuação no ATL, a Rede Arandu também organizou a escuta e o registro de vivências de indígenas LGBTQIAPN+ por meio de mais de 15 entrevistas, que escutaram suas percepções sobre o ATL, o movimento indígena e suas realidades nos territórios. Esses registros serão lançados na forma de uma série de podcast no site do INCT Caleidoscópio, ampliando a circulação dessas vozes e fortalecendo o protagonismo indígena LGBTQIAPN+.
Escrito por: Alessandra Prates